Apreciar um vinho do porto mais do que um cerimonial carregado de tradição deve ser um gesto do dia-a-dia, degustando este vinho único, sempre que possível. Na verdade nada melhor do que ter uma garrafeira bem apetrechada em vinhos do porto para que sempre que nos apeteça tenhamos à mão aquela garrafa que o desejo nos indica.

Falar de vinho do porto é um tanto vago pois referimo-nos a todo o vinho produzido na região do douro, situada a uma centena de quilómetros do porto, segunda cidade de Portugal, que por ser a única por onde este era escoado o baptizou.

Note-se que esta região do douro foi demarcada em 1756 pelo marquês do pombal numa tentativa bem conseguida de pôr ordem no comércio deste vinho que tão importante era para as exportações portuguesas da altura, e que acabou por determinar o nascimento da primeira região demarcada do mundo.

Abordemos então as categorias de vinhos do porto para, desta forma, sermos mais específicos e concretos em relação ao que nos referimos. Numa primeira distinção os vinhos do porto diferenciam-se entre os vinhos do porto brancos obtidos pela fermentação de uvas brancas e os vinhos do porto tinto obtidos através da fermentação de uvas tintas de castas seleccionadas para tal, em ambos os casos.

Os vinhos do porto brancos são duma forma geral apreciados como aperitivos em ambas as suas categorias, a mais doce vulgarmente conhecida por Lágrima e a seca, designada por Dry, acompanhados por uns frutos secos, torrados ou não.

Porém, há quem utilize estes vinhos para fazer cocktails juntando-lhe gelo e limão, e outros acrescentando água tónica e uma folha de hortelã-pimenta, ambas as alternativas válidas, como o serão outras tantas a gosto de quem as consome e faz proveito. Cabe aqui uma palavra para informar que também são produzidos vinhos do porto brancos envelhecidos tão apreciados quanto reduzidas as produções, fica a nota.

Os vinhos do porto tintos esses sim, os mais conhecidos são classificados segundo o estágio que lhes destinam e a duração do mesmo. É nestes vinhos que nos surgem os Rubys, assim conhecidos pela beleza da sua cor muito apreciados frescos ou como aperitivo, optando, por vezes, por ser deleitado com melão no célebre “melon au Porto” ou por outras soluções mais ou menos inovadoras e inventivas que até podem passar por receitas que o inclua como tempero essencial, principalmente quando usado para enriquecer pratos de caça: perdizes, “sanglier”, lebre, até mesmo um veado ou gamo, não esquecendo o caso dos patés.

Numa escala crescente de complexidade fazem a sua aparição os Late Bottled Vintage, vinhos outrora armazenados durante dois anos em cascos após os quais eram engarrafados para não ganharem notas de evolução. Ricos, frutados, agradáveis fazem boa companhia a queijos de ovelha de meia cura, e melhor companhia fazem a sobremesas medianamente doces, em cuja confecção podem eventualmente entrar. Sugerimos até um casamento atrevido: a sua mousse de chocolate com um bom Vinho do Porto Late Bottled Vintage.

O topo das categorias dos vinhos do porto são os Vintage, vinhos obtidos através da vinificação de uvas de uma propriedade, por vezes até de algumas parcelas apenas, e outras de uvas provenientes de parcelas de várias propriedades.

Apenas as melhores uvas servem para a criação destes vinhos do porto Vintage que são engarrafados cedo garantindo a sua longevidade e na garrafa fazem a sua evolução. Apreciá-los a solo em fim de refeição, ou com arrojo a acompanhar a mesma quando esta for composta por uma bela peça de carne de boi, devidamente confeccionada. Como sabe estes vinhos podem coleccionar-se em cave, valendo a pena, sem dúvida, guardar os anos declarados como míticos.

Falemos agora dos vinhos do porto Tawnys, categoria que indica de imediato a presença na madeira, sim os vinhos do porto Tawnys são vinhos do porto Rubys que vão evoluindo em madeira substituindo as notas frutadas iniciais por outras como de frutos secos, especiarias, vinagrinho, tabaco…

Os vinhos do porto Tawnys destinam-se especialmente a ser servidos como aperitivos, frescos, e a acompanhar em fim de refeição as sobremesas que forem servidas, variando entre o médio doce e o muito, de acordo com os gostos pessoais de quem os aprecia.

As categorias dos vinhos do porto Tawnys são muitas, cabendo mencionar as mais conhecidas, note-se que estes vinhos são sempre obtidos pelo lotear de vários vinhos. A primeira categoria são simplesmente os vinhos do porto Tawnys que apresentam ainda algum frutado mas já com notas evidentes de evolução, diríamos que se tratam de lotes de vinhos cujo resultado final dê uma prova organoléptica de um vinho do porto com cerca de 5 anos de idade. A estes vinhos do porto Tawnys seguem-se os 10 anos que agora facilmente percebemos serem obtidos através do casamento de vinhos do porto que dêem uma prova organoléptica de um vinho de 10 anos.

Nesta lógica encontra igualmente os 20, 30,e 40 anos, sendo estes últimos obtidos com o casamento de lotes de vinhos do porto, onde alguns apresentam mais de 80 anos, verdadeiros bálsamos. É ainda nesta categoria que encontram os vinhos do porto velhos.

Apetrechar uma cave de forma minimamente honesta implica, diríamos, que aí repousem pelo menos duas garrafas de cada uma das categorias de vinhos do porto brancos, e pelo menos uma meia dúzia de vinhos do porto ruby, Late Bottled Vintages e Vintages, estes últimos de produtores e anos criteriosamente seleccionados. Acrescente ainda uma meia dúzia de vinhos do porto Tawnys e 10 anos, sendo que das categorias 20, 30 e 40 anos apenas duas garrafas para apetites especiais, a bem da sanidade da nossa bolsa.